
Serviços Centrais do Politécnico de Leiria | 17.10.2022 a 28.02.2023
UM RAIO DE LUZ NA NOITE
Não teríamos percebido a quantidade de mundos que se escondem neste sem a ilustração científica. Foi dito já de mil maneiras, a ilustração ilumina e o trabalho de campo desenvolve a musculatura. Os ilustradores que partem rasgam novos olhares, sempre distintos, com a mão. Eles vão e vêem com as mãos. Veja-se como a paisagem a partir do mesmo ponto de vista, rochas escarpadas com mar em fundo ou fortaleza a prolongar a terra em formas geométricas, nos surge múltipla e distinta, plena de matizes dadas pelo carvão ou sugeridas pela aguarela. Parece impossível, mas as Berlengas não voltarão a ser vistas da mesma maneira. Não se trata de guia de viagens, um roteiro que nos diga onde pôr os pés, a que nos agarrar ou para onde atirar o olhar. Estas páginas são fragmentos poderosos de realidade. Pujante no caso do lagarto, nem tanto para o rato. Mas a morte vence-se assim mesmo através de um conhecimento que a obsessão pela minúcia não cega, antes amplia. O crânio do rato preto roda perante os nossos olhos para se revelar peça essencial de um vastíssimo puzzle. Todo o processo possui a tensão e a força, o músculo do rigor, sem que se perca nem emoção nem humor. Há que procurar, entrar neste percurso com os olhos bem abertos, sem descurar os comentários, as legendas, que não falamos de imagens. O que aqui se recolhe são pedaços de vida, não apenas a daquele território, mas a dos descobridores, que tudo faz parte do trabalho de campo. Se o leitor reparou, a viagem foi organizada como um voo que começa pelo alto e vai descendo até ao insecto tornado resplandecente na sua real realidade. Estes nossos ilustradores são aves que se deixam fascinar com a luz que rasga o negro.
João Paulo Cotrim